quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O QUE ESTÁ A FALHAR NA INICIAÇÃO CRISTÃ?




Introdução
A vida cristã exige sempre uma mudança radical da vida e uma conversão constante nesta vida peregrina rumo à pátria celeste. Pois, a fé e «a inserção na comunidade será gradual, mas constante, a fim de que possam ser evitadas frustrações e radicalismos»[1]. De facto, apesar da afluência massiva na Igreja para receber os Sacramentos de Iniciação Cristã é um caso evidente que nas nossas comunidades, verificamos que depois de receberem os Sacramentos de Iniciação Cristã (Baptismo, Eucarista e Crisma) muitos abandonam a fé cristã católica professada no acto da recepção dos mesmos Sacramentos embora alguns permaneçam fiéis. Por isso, a elaboração deste trabalho pretende tentar responder duas questões candentes na vida pastoral que preocupam a todos nós. Portanto, a nossa abordagem está confinada as perguntas: “Porquê é que depois de receberem os Sacramentos de Iniciação Cristã alguns permanecem fiéis e outros abandonam?”. E sendo que as fontes escritas sobre o assunto são escassas, apoiarmo-nos-émos nas orais. Para o efeito, vamos trilhar no esquema seguinte:
Introdução;
1. Fidelidade depois de recebidos os Sacramentos de Iniciação Cristã;
2. Infidelidade depois de recebidos os Sacramentos de Iniciação Cristã
Conclusão;
Bibliografia

1. Fidelidade depois de recebidos os Sacramentos de Iniciação Cristã
Para os que permanecem firmes nas suas igrejas são os que compreenderam o que na verdade pretendem seguir. Sentem que podem viver com sucessos permanecendo na sua igreja porque também cada um é salvo conforme a situação em que se encontra. O importante é corresponder as regras estabelecidas naquilo que a pessoa professa. Não é fazendo voltas de um lugar para outro pensando que encontrará o melhor, pelo contrário busca outros problemas que já não os tinha. As fraquezas são próprias dos homens nada de fugir. Eis a razão pela qual alguém chegou a afirmar: «Eu estou na igreja católica à 50 anos como casado canonicamente e até agora estou bem juntamente com a minha família porque nós confiamos na nossa igreja e lutamos para correspondermos a vontade de Deus para que Satanás não nos desvie da nossa escolha»[2]. Como ser cristão e ser missionário são sinónimos uma vez que são atitudes complementares do mesmo Espírito, assim também o Baptismo e a Confirmação, alimentados pela comunhão da Santa Eucaristia, são teologicamente inseparáveis, embora distintos, porque ambos constituem único e grande dom do mesmo Espírito, em vista da vivência plena e madura da filiação divina.
De acordo com o que nos disse o Senhor Guedes[3],o que lhe leva a permanecer na Igreja Católica é por causa da fé que ele tem em Jesus Cristo, e não só da catequese que recebeu durante a sua preparação e da uniformidade da própria Igreja. Ele reiterou ainda que não encontra os motivos suficientes que lhe possam abanar obrigando-o a abandonar a fé que decidiu abraçar e nem imagina em deixar a Igreja Mãe.
A partir do Baptismo e da Confirmação, o cristão se incorpora a Cristo e se torna membro da Igreja. A ser assim, a celebração dos Sacramentos de iniciação cristã devem despertar definitivamente a consciência para o verdadeiro significado do “ser cristão”, que se exprime e se plenifica diariamente no agir. O cristão pode nem deve fugir das responsabilidades temporais, pensando encontrar Deus num intimismo espiritualista, mas, à luz da fé, deve descobrir a presença de Deus no secular que o rodeia.

2. Infidelidade depois de recebidos os Sacramentos de Iniciação Cristã
Conforme referimos na nossa introdução, nas nossas comunidades cristã verifica-se dia após dia a afluência massiva na Igreja católica para receber os Sacramentos de Iniciação Cristã há uma desistência massiva depois da recepção dos mesmos. O mais impressionante ainda é que desde o catecumenado até os momentos preparativos dos mesmos Sacramentos todos os candidatos sentem aquelas motivações interior de crescer na fé. Mas o mais decepcionante é que depois de recebidos tais Sacramentos na maioria dos casos tudo passa, tudo termina, tudo acaba e vê-se aquela fé iniciar quase a desmoronar. Portanto, a mudança da religião para outra ou então de uma igreja para outra tem sido uma grande preocupação. E uma vez que o fenómino preocupa a todos, é tempo oportuno colmatarmos o problema. E um dos métodos para tal fim, é compreender o caso a partir da raiz inquerindo algumas pessoas sobre o porquê da desisdência depois de receberem os Sacramentos de Iniciação cristã. A falta duma fé suficiente no coração de muitos religiosos é uma questão que tem provocado muitas agitações no meio dos mesmos. Daqui surge a questão: “Porquê é que depois de receberem os Sacramentos de Iniciação Cristã alguns abandonam a Igreja?”.
Das múltiplas entrevistas que fizemos às diferentes pessoas sobre as motivações da permanência e mudança duma religião para outra ou duma igreja para outra os seus discursos centravam-se na questão do medo do sofrimento, morte e por estar a usufruir da beleza daquilo que se acredita através de uma fé firme respectivamente. Em outras palavras podemos afirmar que o pano de fundo do abandono é a questão de sincretismo religioso, ou seja, as pessoas pensam que a essência da religião e dos Sacramentos está nas suas convicções pessoais e particulares pensando que ela (a religião) é boa quando satisfaz as suas vontades ou os meus interesses. Pois, grande parte dessas pessoas vai a Igreja com uma certa ideia de um “Deus particular, atento aos seus interesses pessoais”, exigindo da comunidade uma conduta conforme os seus ideais. Aqui se enquadra o que nos disse a dona Lídia[4] que nos confessou ter passado em muitas seitas. Ela disse que recebeu Baptismo na Igreja Anglicana mas em criança porque sua mãe é que a levava para lá, isto nos anos 70. Depois de um período, mais ou menos aos 18 anos, sentiu que não estava no seu devido lugar sentindo-se obrigada a entrar na igreja nos Velhos Apóstolos, onde tanto dançavam porque é o que mais se faz.. Segundo ela, descobriu depois que o Deus que o seu coração desejava alí não se encontrava. Foi para a Igreja Univeral do Reino de Deus. Alí viu que era pior que as duas últimas igrejas, por si frentadas. A ser assim, parou alguns anos sem rezar e foi este período de silêncio, que apareceu o homem da sua vida, isto é, o seu marido, já babtizado e crismado na Igreja Católica que lhe motivou a ir na sua companhia. E descobriu que o seu Espírito tinha sede e desejo de Jesus Cristo, anunciado na Igreja Católica. Ela disse que foi admitida e reconhecida como baptizada, e casaram. E agora está se preparando para o Sacramento de Crisma ainda neste ano. Segundo ela algumas pessoas querem consolo, compreenção, etc. E quando não encontram o que querem, é lógico, que vão sempre a procura para ver na outra igreja se encontram ou não o que querem. Frisou ainda: «muitas das vezes, as pessoas têm um certo Deus desenhado nas suas cabeças além de que algumas seitas exploram os simples em nome de Deus. Isto verifiquei na Universal, quando lá fui, procurando também o meu Deus».
Nesse sentido, os que abandonam a Igreja alegam, na maioria dos casos a insatisfação das suas expectativas. Outros ainda põem a culpa na comunidade cristã como promotora de conflitos contra as mesmas pessoas, sentindo-se assim, rejeitadas e isoladas. Como se pode verificar, parece que falta uma fundamentação sólida da fé cristã. De facto, são muitos que chegam mesmo a afirmar que «saímos da nossa igreja porque na nossa vida não tínhamos sucesso, as doenças caracterizavam o nosso estilo de vida e agora todo o sofrimento converteu-se numa felicidade total»[5]. Outros ainda dizem que o que lhes motiva a sair de uma religião a outra é « a procura dos bens materiais casando com alguém de religião alheia»[6]. Isso significa que o casamento de pessoas com religiões diferentes faz com que em muitos dos casos uma parte mude da sua igreja seguindo ou o marido ou a esposa. Ainda outras pessoas murmuram de igreja em igreja dizendo que tenho um ano doente e agora estou sem expectativa de vida. Em tudo isto, verificamos que há uma falta de confiança no que se professa, daí a urgência da consolidação e aprofundamento da fé antes de receber os Sacramentos.
Segundo o Senhor Augusto[7] «a apostasia que se verifica no nosso país é um assunto sério e para isso a Igreja de Moçambique deve fazer alguma coisa. Há muitos irmãos nossos, que estão a vaguear por aí, com os sacramentos já recebidos». Segundo ele, o problema reside em ambas partes. A Igreja tem a sua culpa na medida em que alguns catequistas não se preparam devidamente para responder com eficácia as inquietações dos catequizandos e estes acabam ficando sem a base da doutrina fundamental da Igreja. Para os que saem também têm sua grande responsabilidade. Pois, estes não se interessam naquilo que é o essencial. Uns querem festa, outros desejam pura e simplesmente completar o número dos sacramentos.
Em conversa com a dona Farensa da Igreja União Baptista disse o seguinte:« saí da Igreja Católica por causa dos falsos testemunhos que davam alguns fiéis da comunidade paroquial inclusive alguns padres». Segundo ela, o que se prega em muitas Igrejas não é o que se vive na realidade, tornando-se assim o Evangelho de Jesus Cristo um “flactus voci”. Ela disse ainda que quando perdeu o marido foi proibida de comungar e ficou sem saber o que deveria fazer naquela altura. Ficar sem rezar para ela era uma decepção total. Então, achou por bem ingressar na igreja União Baptista onde foi recebida com toda ansiedade. Mas também afirmou que existem outros casos: «algumas pessoas depois de receberem os sacramentos acham que é tudo na vida deles».
O Senhor Tembe[8] também disse que os nossos Pastores (os Sacerdotes católicos), não dão um bom testemunho, nos últimos tempos tem se verificado escândalos de alguns Sacrdotes católicos, não têm o poder de curar como fazem os da Igreja Universal. Segundo ele os pastores da Igreja Universal tiram os espíritos impuros, ajudam as pessoas a terem uma vida feliz, a ter emprego. Estão preocupados com a cura das almas das pesoas e não só anunciar o Evangelho como fazem os Católicos. Disse ainda que a Igreja Católica tem muitas normas. Jesus não tinha normas tão complicadas, o importante é ouvir a Palavra de Deus, acreditando em Jesus Salvador.

Conclusão
Chegados ao fim do nosso trabalho constamos que há profunda inversão de valores fundada no materialismo individualista, consumismo, deteriorização de valores básicos e espirituais e a crise de valores morais, inversão essa que está na raiz dos que abandonam a Igreja depois de receberem os Sacramentos de Iniciação Cristã. E essa inversão constitui um mal que desafia o testemunho e a acção dos cristãos e de todos os homens de boa vontade. «E tudo isso faz saltar aos olhos o mistério do pecado»[9]. Para tal, a evangelização não pode contentar-se em mudar a superfície da realidade. Por esta razão o Papa João Paulo II afirma que «importa evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade, e isto até às raízes»[10]. De facto, só através dos cristãos evangelicamente comprometidos, a Igreja vai se tornando cada vez mais, instrumento do Senhor segundo os valores do Reino. Portanto, a catequese de iniciação cristã deve propor o empenho efectivo, envolvente e comprometedor dos cristãos na construção do Reino, através da participação activa, consciente, evangélica e libertadora na vida da Igreja e da sociedade secular. A Igreja propõe aos que estão insatisfeitos, o que ela possui de melhor: dar «testemunho de Deus revelado em Jesus Cristo, pelo Espírito, anunciar a Boa Nova da salvação, gerar a fé, que é conversão do coração e da vida, levar ao seio da comunidadede dos fiéis os que dela são parte»[11].


Bibliografia
Fontes escritas:
GOEDERT, V. M., O Sacramento da Confirmação (Perspectivas teológico - pastorais), Edições Paulinas, São Paulo, 1989.

Fontes orais:
Dona FARENSA, da Igreja União Baptista
Dona LÍDIA, Cristã católica da Sé Catedral.
GLÓRIA, Maria da, Jovem do primeiro ano de Crisma, paróquia de São Pedro e São Paulo de Choupal.
MÁRIO, Mena, ex-solista da Igreja católica, baptizada e professante até mais que 10 anos, actualmente convertida para Igreja Universal.
Senhor AUGUSTO, Fiel católico da Sé Catedral.
Senhor GUEDES, Cristão católico e Guarda do Seminário Teológico Interdiocesano “S. Pio X” – Maputo.
Senhor TEMANE, católico e Coordenador do ministério de Catequese da comunidade de Inhagoia — Choupal.
Senhor TEMBE, da Igreja Universal.


[1] Valter Maurício GOEDERT, O Sacramento da Confirmação (Perspectivas teológico - pastorais), Edições Paulinas, São Paulo, 1989, p. 108.
[2] Senhor TEMANE, católico e Coordenador do ministério de Catequese da comunidade de Inhagoia- Choupal.
[3] Cristão católico e Guarda do Seminário Teológico Interdiocesano “S. Pio X” – Maputo.
[4] Cristã católica da Sé Catedral.
[5] Mena MÁRIO, ex-solista da Igreja católica, baptizada e professante até mais que 10 anos, actualmente convertida para Igreja Universal.
[6] Maria da GLÓRIA, Jovem do primeiro ano de Crisma, paróquia de São Pedro e São Paulo de Choupal.
[7] Fiel católico da Sé Catedral.
[8] Cristão da Igreja Universal.
[9] Valter Maurício GOEDERT, Op. Cit., p. 124.
[10] In Locus citatus (L. C).
[11] Valter Maurício GOEDERT, Op. Cit., p. 115.

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