terça-feira, 23 de agosto de 2011

PERFEIÇÃO EM SÃO MATEUS


«Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (MT 5,48)

 São Mateus

Conceito da Perfeição
Etimologicamente, a palavra perfeição vêm do latim, perfectio que significa «acabamento de uma coisa, de uma acção ou de uma ideia»[1]. Também significa consumação ou plenitude. Em suma, «perfeição é a plena realização»[2]. No entender da Santa Teresa, «perfeição é fazer tudo por amor, é fazer a vontade de Deus»[3]. Para muitos teólogos, alguém é perfeito quando «as suas virtudes materiais ou espirituais se encontram plenamente feitas ou realizadas»[4]. Entendida a perfeição como plena realização, conclui-se que quem a ostenta ontologicamente só é Deus. Pois, Ele é a suma perfeição. Daí que todo o homem criado à imagem semelhança de Deus, «é chamado a santidade»[5].

Perfeição em São Mateus
O Novo Testamento, contrariamente ao Antigo Testamento, atribui a perfeição a Deus. E quem bem fala do tema da perfeição é o evangelista Mateus. Ele usa o adjectivo "perfeito" (teleios), que aparece somente duas vezes em todo o Evangelho. Uma no 5 capítulo: «Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito» (Mt 5,48) e a outra no capítulo 19: «Se queres ser perfeito vai, vende o que tens […] depois, vens e segue-me» (Mt 19,21). Entretanto, Mateus não emprega o substantivo (perfeição).
Na óptica de Mateus, perfeito é aquele que se entrega ao mestre. E a adesão ao mestre deve ser total e incondicional. Ou seja, ela exige uma renúncia e uma total submissão a Deus. E um dos exemplos do apelo a renuncia é do jovem rico (Mt 19,21), que devido a sua riqueza não conseguiu desligar-se dela. E como consequência, sai pesaroso diante de Jesus. No entanto, Jesus ensina-nos que o homem não deve se dividir diante de Deus. O conhecimento teórico dos mandamentos deve passar à realidade, servindo ao próximo.
Por isso mesmo, os ricos devem-se desapegar dos muitos bens para possuírem os bens celestes (Mt 19,21). Fazendo assim, o homem se aproxima de Deus que é imperecível e incomensurável na bondade para todos os homens. Entretanto, «todos homens cultivam a mesma perfeição essencial nos múltiplos géneros de vida e de ocupações»[6]. E como é óbvio, «cada um deve realizá-la segundo os dons e funções que lhes são próprias, nas circunstâncias da vida»[7].
Comportando-se assim, a nossa adesão a Deus é completa. Por outro lado, para que o homem alcance frutos desejáveis, no caminho da perfeição é absolutamente recomendável que «Jesus Cristo seja o seu modelo e mestre da via»[8]. Alias, é Ele que nos convida e nos ordena: «sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5,48). Neste apelo, Jesus indica-nos o modelo a seguir que é o Pai. E ao mesmo tempo, Ele exige-nos que a nossa perfeição ultrapasse as barrareis materiais, sociais e culturais. Nesta busca da perfeição, o homem «recebe de Cristo o Espírito Santo que lhe move interiormente para a amar a Deus com todo o seu ser e capacidade» (Mt 22, 37).

Jesus e a perfeição
Para Mateus, a verdadeira perfeição só pode ser alcançada mediante «a nova orientação dada por Jesus Cristo, que se fundamenta na lei do amor»[9]. Este tipo de perfeição é fruto de um relacionamento com Deus. Pois, Ele é que é o Amor. Não obstante, «não se trata de preservar integridade, mas trata-se de dons de Deus, do amor de Deus que devem ser recebidos e difundidos»[10]. Mateus apresenta Jesus Cristo que se identifica com os pecadores, os acolhe e convive com eles, pois, não «são os que têm saúde que precisam de médico mas, sim os doentes» (Mt 9, 12)
Perfeição como amor
Mateus num contexto próprio, introduz a palavra amor na sua dimensão universal que bem se relaciona com a perfeição. E este amor que é a caridade universal estende-se aos inimigos. «Amai os vossos inimigos fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam […] Sede, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (Mt 5, 44- 48). Mateus em sua óptica, o cristão deve amar os inimigos, pois se assim não fizer, nada faz de extraordinário. Porque os inimigos também amam os seus. A caridade é um vínculo de perfeição no seu ponto mais alto.

Conclusão
Depois de uma leitura exaustiva empreendida durante a pesquisa sobre o tema em epígrafe, é chegada a altura de concluir que «perfeição é a plena realização»[11]. E o modelo e mestre da perfeição é Jesus Cristo na Sua união Trinitária. Pois, Ele é que nos convida e nos ordena: «sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5,48). Além de nos apelar, Ele nos convida a amarmos a Deus e ao próximo inclusivelmente aos nossos inimigos, «amai os vossos inimigos fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam» (Mt 5, 46).
Para que o homem alcance frutos desejáveis no caminho da perfeição é recomendável que Jesus Cristo seja o seu modelo e mestre nessa via. Alias, é Ele que nos chama e nos exorta: «sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5,48). Neste apelo, Jesus indica-nos o modelo a seguir que é o Pai. Todavia, Ele exige-nos que a nossa perfeição ultrapasse as barrareis culturais, os limites dos egoísmos e de inimizades. Para que isto seja possível, o homem «recebe de Cristo o Espírito Santo que lhe move interiormente para a amar Deus com todo o seu ser e capacidade» (Mt 22, 37).

Bibliografia
CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, (20. 10. 1965), Edições A.O. Braga, 20033.
FREITAS, C. Manuel. Enciclopédia Verbo, Luso-Brasileira de Cultura, Edições Século XXI, Editorial Verbo, Lisboa∕São Paulo, 2002.
CAVALCANTE, T.Pedro. Dicionário de santa Teresinha, Edições Paulus, São Paulo, 1997.


[2] Ibidem.
[4] Op. Cit p. 751.
[5] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, Edições A.O. Braga, 2003,39.
[6] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, Edições A.O. Braga, 2003. 42.
[7] Manuel C. FREITAS, Enciclopédia Verbo, Luso-Brasileira de Cultura, Edições Século XXI, Editorial Verbo, Lisboa ∕ São Paulo, 2002, p. 753.
[8] Op. Cit.,LG. 40.
[9] Ibidem, p.756.
[10] Ibidem, p.766.
[11] Manuel C. FREITAS, Enciclopédia Verbo, Luso-Brasileira de Cultura, Edições Século XXI, Editorial Verbo, Lisboa∕São Paulo, 2002, p. 751.

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