sexta-feira, 29 de julho de 2011

O HOMEM É JESUS NA SUA TENTAÇÃO


Uma reflexão da Antropologia Teológica

Introdução
Por definição, Antropologia Teológica é tida como discurso sobre o homem sob o ponto de vista do discurso sobre Deus. Ou seja, é a reflexão sobre o homem na sua condição hunmana e existencial, porém, à luz do discurso de Deus. Tendo como ponto partida esta definição, entende-se que o homem está constantimente à procura de se compreender quem ele é. Nessa busca, surpreende-se que ele não constitui o fundamento do seu ser homem. E Jesus é o verdadeiro homem no qual o ser humano encontra o seu verdadeiro sentido de ser homem. No entanto, uma vez que em Jesus se encontra o sentido do homem, e Ele foi tentado e, o homem na sua experiência humana enfrenta situações idênticas como as tentações de Jesus, então, o homem é Jesus na sua tentação. Portanto, este homem configurado no ser homem de Jesus é o objecto de reflexão neste trabalho. Ele centralizar-se-á mais nas tentações de Jesus seguindo o evangelista Lucas. O seu objectivo principal consiste em compreender até que ponto, as situações existenciais do género humano se resumem na vida de Jesus, enquanto homem tentado.

O homem é Jesus na sua tentação
A experiência diária do homem mostra que, desde que ele se tornou homem é confrontado por situaçõe de crise de várias ordens, sendo algumas delas de tipo existenciais, como por exemplo, a morte, a doença, a fome, a pobreza, etc. Nesta ordem de confrontos, muitas das vezes, cada dia que nasce é flagelado pela questão da fome que necessariamente deve ser saceiada. Diante das situações limites, o homem se questiona o porquê de todos os males e da morte? Onde deve estar Deus? Quem permite tais catastros que põem em causa a sua existência? O homem assim pensando acha que ele é o primeiro que experimenta tais situações.
Todavia, isto não constitui a verdade. Pois, Jesus na sua peregrinação na terra, foi tentado pelo diabo, segundo o Evangelho. E as tentações de Jesus resumem todas as situações existenciais do homem. Ou seja, as três tentações de Jesus resumem tudo aquilo que o homem encara durante a vida. Daí que Jesus por ser o primeiro homem a ser tentado e sair vitoriso da tentação, Ele é o Ecce Homo, isto é, o verdadeiro homem. Ou seja, o justo sem pecado. Uma vez que o homem na sua situação antropologica caminha pelos mesmos trilhos por onde Jesus passau, então, o homem é Jesus na sua tentação. E as três tentaçõe de Jesus resumem as possíveis tentações do género humano que às vezes servem de prova e de iniciação à vida diária do homem. Neste caso, Jesus tentado representa o homem na sua existencia. Ora vejamos as três tentações de Jesus.
1.      A tentação do pão
Nesta tentação Jesus mostra-nos que Ele é verdadeiro homem. Porque segundo o evangelista Lucas, Jesus teve fome depois de ter ficado um tempo sem comer (Lc 4,2). O ter fome é próprio do ser humano. A condição existencial humana está marcada pelo pão, pelo comer, e quando o pão falta, obviamente, o homem sente fome, necessita de comer, pois, está privado do essencial para a sobrevivência. Jesus como verdadeiro homem, também sentiu fome. Nesta ocasião em que Ele sente fome, o diabo aproxima-se e propõe-lhe a obtenção do pão de modo fácil. Obter o pão sem trabalho. Se Jesus tivesse transformado a pedra em pão, estaria a pôr em questão a dependência social. Quer dizer, cada indivíduo estaria virado só e só para si. O trabalho do outro não teria importância.
Muitas das vezes, o homem é tentando nas circunstâncias de dificuldade. Ou seja, no momento em que tanto precisa de algo. E a privação de algo necessário no momento em que tanto se precisa é oportunidade fértil para o tentador ou o diabo. Jesus apesar da fome não deu ouvidos ao diabo. Assim feito, Jesus saiu vitorioso da tentação diabólica. E a vitória de Jesus é também vitória de todo homem que não se deixa vencer pelo diabo.

2.      A tentação do poder
O diabo insatisfeito com a resposta de Jesus, na primeira tentação proprõe à Jesus outra oferta gratuita, o poder. Isto porque o poder é um outro ícone problemático na vida humana. Pois, o poder corrompe qualquer homem. E Jesus na sua condição de homem é apresentado pelo diabo a beleza dos reinos da terra, para se fascinar pelo esplendor dos mesmos. Jesus siente da sua condição de ser Filho e não Deus, da relação filial entre o Pai e o Filho, recusa em adorar ao diabo, com o intuito de ser poderoso. E Ele responde: «Só a Deus se presta culto» (Lc 4, 7).
Jesus verdadeiro homem ensina-nos que o poder sobre os outros com a intenção de possuir tudo num curto espaço de tempo, é negar a temporalidade, para só estar no presente, no já e no agora. E isto significa aniquilar a criação, pois é negar o tempo notório na criação. A ganância de ser poderoso sobre os outros é um dos males que muitos estados actualmente enfrentam. E Jesus ensina-nos que cada homem deve saber reconhecer o seu lugar. Não procurar dominar os outros com fins interesseiros.

3.      A tentação de desejar ser Deus
O diabo fracassado nas últimas duas tentações ele não se rende. Nesta tentação, o diabo põe em questão a filiação de Jesus, quando diz: «se é filho de Deus» (Lc 4,9). Esta tentação, nos apela a não tentarmos a Deus. Também nos revela a ideia da morte. Uma vez que Jesus é Filho de Deus, Ele muito bem podia fazer valer o seu poder de ser Deus Filho. Ou seja, Ele tinha o poder de mostrar ao diabo saltando decima para baixo sem se machucar para revelar o seu ser Filho de Deus. Mas Ele, não tenta ao Senhor.
O facto de ser Filho de Deus, não é a condição de usar desnecessariamente o poder divino. Nesta tentação Jesus apela-nos que o facto de ser cristão ou outra designação que seja, é condição fundamental de não morrer. Não. A morte é certa. O discípulo não está exento de morrer. A morte faz parte da codição humana. É morrendo que se salva. O ser Filho de Deus implica dependência e limitação. Daí que o Filho de Deus, o discípulo, o cristão deve lutar para manter o seu livre arbítrio. Isto é que significa ser Filho de Deus.

Conclusão
Antropologicamente, o homem torna-se homem por meio da iniciação. E a iniciação não é feita de mares de rosas, mas de duras batalhas da vida. Pois, o homem como finito, ele é dependente. Feita a descoberta de ser dependente e de nunca atingir a plenitude de homem, mas de constantemente de estar a se tornar homem cada dia que passa, percebe que na história dos homens, existiu, existe e existirá o verdadeiro homem: o Ecce Homo (Jesus), o qual Herodes se referiu. Ele é Jesus na sua tentação. Jesus é o verdadeiro homem. Como não bastasse, tornar se homem tem o seu preço que é a morte. Porque é morrendo que se deve salvar. Uma vez que a morte faz parte da condição humana, o homem tem que aceitá-la. Pois, mesmo Jesus que é o verdadeiro homem do qual cada homem como individualidade se inspira, pela morte passou para depois ressuscitar. Jesus não fugiu das tentações. Mas enfrentou-as e saiu vitorioso. Por causa da Sua vitória, Ele é o justo sem pecado. Nele, por Ele, e com Ele (Col 1,20) toda a humanidade tem a sua razão de ser. Daí o homem é Jesus na sua tentação.

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