domingo, 19 de agosto de 2012

O DOM E OS ESQUEMAS DA COMUNICAÇÃO


Introdução
A comunicação humana é inerente à natureza do homem razão porque ela é fundamental para os seres humanos. No presente trabalho tencionamos apresentar, de forma sucinta, a comunicação como dom e os respectivos esquemas à luz da obra de Pierre Babin “A era da comunicação”. No primeiro ponto abordaremos o dom da comunicação cujo vértice é Deus. No segundo ponto, falaremos dos esquemas da comunicação.

  1. O DOM DA COMUNICAÇÃO
Na óptica de Babin, para um cristão a comunicação é um dom, pois é intrínseca à natureza humana. Este dom é ao mesmo tempo uma revelação e um impulso original que se recebe de Deus. Por isso, “Deus é a base de tudo e constitui o vértice da comunicação”[1]. A revelação é a da unidade fundamental do género humano transpassado pelo amor de Deus. Deste modo, para um cristão, a essência da comunicação é a comunhão. “Os dois interlocutores entram um e outro em comunhão. Eles comunicam um ao outro e se tornam amigos”[2]. Neste sentido, emissores e receptores guardarão a mesma pele, mas a comunhão que preexiste neles age como uma fonte.
Por outro lado, Babin nos mostra que comunicar é transmitir uma mensagem que não se domina inteiramente, porque ela vem do fundo de nós mesmos, lá onde moram a necessidade e o mistério.
O projecto cristão é ser o sal da civilização da informação e da comunicação, o que não significa ser superior aos outros, mas ser duas vezes “in”, no mundo e no amor de Deus. Mas sempre apaixonado por reconstruir a unidade quebrada do género humano. Dado que a comunicação é um dom a ser partilhado e posto em acção, o feedback (o choque em retorno ao sinal enviado pelo emissor), servirá para regular as comunicações humanas, conforme uma perspectiva cristã.
A revelação da comunicação não se leva como uma glória, mas antes como um fogo que queima. Aliás, como mostramos atrás a revelação concerne ao nosso modo de ser. Ela impõe-se-nos de forma original e radical ligando-nos mutuamente uns aos outros. Destarte, “a revelação da comunicação é a revelação da comunhão fraterna de todos os homens com Deus em Cristo. A fim de criar a unidade fundamental do género humano e de corrigir todas as distorções da comunhão”[3].

  1. OS ESQUEMAS DA COMUNICAÇÃO
Nas suas cogitações Babin foi percebendo que “não existem bons ou maus esquemas de comunicação. Tudo depende do que se procura e do que se quer esclarecer”[4]. Contudo, ele propõe-nos seis (6) esquemas.

a)      Os esquemas da linguagem
Os dois primeiros (a comunicação de modulação e a comunicação alfabética) referem-se aos esquemas de linguagem. Mostram como a comunicação muda radicalmente conforme os alfabetos e as mídias que se utilizam.
A modulação indica tudo o que se apresenta aos sentidos sob forma de vibrações visuais e cujos ritmos, intensidade e extensão são hoje acentuados pela electrónica. Neste caso, comunicar não é dizer, mas participar. Não são as palavras que contam mais na comunicação, mas o envolvimento, a atmosfera, as condições materiais, as mídias utilizadas[5].
Por seu turno, a comunicação alfabética é marcada pela abstração, rigor e lógica racional. Por isso, o mais importante é falar do que escutar. A linguagem dominante é a das palavras, terminando em um discurso oral ou escrito. O feedback se exprime antes de tudo por uma troca de palavras e de ideias sobre pontos precisos.

b)     Os esquemas de afinidade
Seguem outros dois esquemas (a comunicação da amizade e a comunicação do Espírito) que surgem das afinidades, isto é, de parentescos e de acordos misteriosos entre os seres humanos. A comunicação de amizade e de Espírito sai de movimentos e atracções pessoais que escapam, em definitivo, a toda análise científica e a todo controle autoritário.
Na comunicação de amizade “as linguagens são diversas, das palavras aos actos e aos presentes. Elas se revestem geralmente de um respeito afectivo e até sentimental”[6]. Na do espírito o que se comunica é fundamentalmente “a visão que se tem de si, suas questões e problemas insolúveis, seus medos e suas tomadas de posição, suas esperanças e motivações essenciais. A comunicação de ser a ser, supõe parceiros”[7].


c)      Os esquemas da fé cristã
Os dois últimos esquemas são directamente comandados pela fé cristã. Em primeiro lugar a comunicação dos pobres. É um módulo particular de comunicação que faz Jesus dizer: “felizes os pobres”. Enfim, a comunicação da fé, domínio que toca a Igreja em seu núcleo e que não cessa de ser debatido. Não nos vamos ater sobremaneira neste sub-capítulo dos esquemas da fé, pois dizem respeito ao outro grupo não obstante terem principiado no capítulo que nos toca.

Conclusão
Depois de abordarmos de forma sumária a comunicação como um dom advindo de Deus e dos esquemas que nos facilitam na nossa comunicação, é chegado o tempo de traçarmos linhas conclusivas. Vimos atrás que por ser dom que nos é revelado no mais íntimo da nossa intimidade, o fim último da comunicação é a comunhão entre os interlocutores. Outrossim, ela obedece os critérios esquemáticos que lhe são peculiares. Estes esquemas, no seu todo, dizem respeito à vida e à fé de todos os homens na sociedade onde se encontram.

Bibliografia
BABIN, Pierre, A era da comunicação, Ed. Paulinas, São Paulo 1989.


[1] Pierre BABIN, A era da comunicação, ed. Paulinas, São Paulo 1989, p. 39.
[2] Ibidem, p. 42.
[3] Ibidem, p. 48.
[4] Ibidem, p. 49.
[5] cf. Ibidem, p. 51-59.
[6] Ibidem, p. 72.
[7] Ibidem, p. 77.

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